Globetrotter by Harold Emert

Rio de Janeiro – Há alguns maravilhosos cariocas, ou personagens locais, que podem ter falecido, mas que continuam a viver imortalmente!

O brasileiro Moliere do século XX, dramaturgo, ator, diretor e professor de teatro João Bethencourt (Budapeste,1924-2006, Rio de Janeiro) é uma dessas “figuras”, a que chamam de personalidades carismáticas em português.

Em meus primeiros anos no Rio de Janeiro, escrevendo para o Brazil Herald (jornal em inglês) sobre eventos culturais, tive o privilégio de conhecer este graduado da escola de teatro da Universidade de Yale, um contemporâneo de Paul Newman.

E embora meu português fosse limitado, as comédias do dramaturgo brasileiro que foram traduzidas e bastante bem sucedidas na Alemanha e em outras partes da Europa, incluindo o hilário “The Day the Pope was Kidnapped”, (1972) e “Bonifacio Bilhoes” (1975) “foram bastante compreensíveis e tocaram este amante do teatro”.

De fato, de alguma forma a hilaridade do que Bethencourt criou no palco me fez lembrar de Neil Simon “(New York,1927- NYC,2018) e suas inimitáveis comédias “Descalço no Parque”, o “Casal Estranho” que me fez rir às lágrimas nos teatros da Broadway em minha cidade natal de Nova York.

“Você é o Neil Simon do Brasil?” Eu pedi a Bethencourt uma entrevista para o Brazil Herald.

“Não, Neil Simon é o João Bethencourt da Broadway”, respondeu ironicamente o dramaturgo.

O maior sonho de Bethencourt era ter uma comédia de sua peça na Broadway, o famoso bairro teatral de Nova York onde o mito é “um coração partido para cada luz na Broadway”.

Então, ele deu o texto da comédia hilária que eu assisti na noite de sábado em sua estréia, Circuncisão em Nova York”, para a opinião de um espectador de teatro nova-iorquino.

Minha opinião na época, décadas atrás, era de que a peça era muito burlesca, comédia de tapas para a chamada sofisticação do público da Grande Via Branca.

Mas os tempos mudaram e o casamento entre o mesmo sexo não só é (quase) aceitável para todos, mas também para a lei em muitas partes do mundo.

E muitos desses casais, se não adotarem filhos, estão tendo filhos por inseminação artificial (uma vez chamados de “bebês de proveta”).

Portanto, a premissa principal da peça: duas lésbicas tendo um bebê gerado por inseminação artificial e celebrando um “bris,” ou circuncisão (procedimento cirúrgico para remover o prepúcio do pênis) é hoje uma realidade para muitos dos chamados casais gays.

E na minha humilde opinião, embora esta comédia esteja na tradição do teatro Yiddish, é uma peça teatral que poderia ter apelo internacional…talvez até para os gostos perfeccionistas da Broadway, se não fora da Broadway.

Duas judias lésbicas se apaixonam e têm um lindo menino?

Não importa que dois pais judeus tradicionais, Samuel e Abraão, quase tenham ataques cardíacos ao descobrir que suas amadas filhas, Emily e Miriam e são “casadas”, o “show” ou a circuncisão devem continuar.

A tradição e a circuncisão não são apenas um costume judeu, mas revelação no Islã, na fé dos drusos e em algumas denominações cristãs.

Assim, apesar da presença de cobertura de cabeça, yarmulkas e presença de um mohel (uma pessoa que realiza a circuncisão) – que é chamado de rabino para fins teatrais no palco – esta comédia hilariante tem um público potencialmente mais amplo.

Bethencourt Húngaro – de origem judaica que se estabeleceu com seus pais no Brasil antes da Segunda Guerra Mundial, voltaria de bom grado do túmulo e pegaria uma caixa diante da casa lotada de risos – com o teatro de lágrimas do recém reaberto Teatro Brigite Blair, aqui em Copacabana.

Uma pena que ele não pôde estar na abertura e nas encenações posteriores que estão programadas. Como diretor, o ator que era uma perfeccionista Bethencourt teria estado em cada apresentação, tomando notas e fazendo correções e modificações de acordo com o que ele via e como o público reage.

A partir de minha experiência como espectador das outras comédias de Bethencourt, a escolha dos atores e atrizes (infelizmente o público não tinha um programa escrito) estava exatamente na tradição dos espectadores que Bethencourt teria escolhido.

A comédia continua esta noite às 18hs e é habilmente dirigida por Guilherme b, direção supervisionada pela filha do dramaturgo, atriz, professora de teatro e diretora Cristina Bethencourt.

O elenco oficial e bastante credível inclui: Jalusa Barcellos (mãe judia, Sarah), Narjata Turetta (filha, Miriam), Araci Breckenfeld (companheira de Miriam, Emily), Sergio Fonta (pai de Miriam, Abraham), Rogerio Freitas (Samuel, pai de Emily), Danton Lisboa (Ralph, que NÃO foi o pai do bebê), cenários e figurinos de Augusto Pessoa. Carlos Loffler (o Rabino-Moel que faz a circuncisão – ficou doente e foi substituído por um ator que conseguiu, com dois ensaios, desempenhar habilmente seu papel.

Por favor, vá para esta noite ou até que a apresentação da comédia termine no teatro Brigitte Blair, Miguel lemos 51H, Copacabana esta noite às 18hs para dar uma boa gargalhada nestes tempos nem sempre risíveis.

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