Enquanto o mundo do jornalismo e da literatura parece estar abandonando lenta mas seguramente o papel em favor dos formatos de tela on-line, eBook e Kindle, o mundo teatral parece estar caminhando para peças mais longas em vez de curtas.
“Angels in America” (1991), de Tony Kushner, em duas longas noites (exibida em 2020 no Rio de Janeiro), é seguida atualmente *pela premiada “The Inheritance”, da Broadway e de Londres, de Mathew Lopez, porto-riquenho-americano.
E com os preços dos teatros na Broadway, um frequentador de teatro que queira atualizar seus conhecimentos sobre o teatro americano atual tem até 22 de outubro de 2023 para assistir a essa peça histórica.
Convidado na última sexta-feira para assistir à segunda parte da saga sobre (mas não apenas sobre) a vida homossexual em Nova York, este amante do teatro decidiu ir depois de rever a emocionante primeira parte da peça.
E não me arrependo de ter assistido a todas as seis horas da saga de Lopez porque, de fato, trata-se de uma peça teatral muito importante que busca fazer as pazes com os preconceitos e concepções errôneas dos Estados Unidos – e do mundo – sobre a comunidade “gay”.
No entanto, como frequentador de teatro desde Shakespeare-Chekhov-Eugene Oneill até o lendário Nelson Rodrigues, sinto que as duas longas noites no teatro poderiam ter sido melhor condensadas e editadas em uma única noite.
Mas, aparentemente, a julgar pela ovação de pé dada à excelente produção pelo público no teatro Clara Nunes, no Gavea Shopping, estou em minoria.
Nesta época em que os afro e as mulheres nas artes e na história estão sendo reavaliados, “The Inheritance” é uma tentativa de olhar com mais inteligência a revolução homossexual/gay e a tragédia de como a Aids afetou um segmento importante da população americana, mas foi ignorada pela maioria, como enfatiza o texto de Lope.
E se alguém ler a peça original ou fechar os olhos para os atores no palco, as histórias de amor poderiam facilmente ser sobre romances, relacionamentos, casamentos e separações entre heterossexuais e homossexuais.
Algumas horas antes de assistir ao teatro, eu estava conversando com um amigo na casa dos 90 anos que se lembrava de que “anos atrás, quando eu ia ao teatro e via gays no palco, eu saía no meio”.
Esse tempo passou e estamos em uma nova era, especialmente no mundo do teatro, dos filmes e das novelas de TV.
O mundo de Lopez no palco vai das ruas de Manhattan ao teatro da Broadway, passando pelas praias eróticas de Fire Island (o Búzios de Nova Iorque), no Rio de até os subúrbios dos EUA e do Alabama.
Depois de fazer grande sucesso na Broadway com seu “Loved Boy”, Toby Darling (Rafael Primot) está agora empenhado em escrever o que ele chama de uma visão mais verdadeira de sua vida, “Lost Boy”.
Ao receber o texto “longo demais” (rs ) de Toby, seu agente teatral da Broadway acredita que o outrora famoso dramaturgo enlouqueceu e tenta mandá-lo para um centro de reabilitação, mas a outrora estrela mais brilhante do teatro da Broadway se tornou uma sombra de si mesmo.
Hmm, parece familiar!
(Lembranças de uma grande figura literária que se tornou um bêbado ao retornar aos Estados Unidos, Scott Fitzgerald:” Não há segundos atos na vida americana”).
O elenco de personagens heterogêneos inclui um bilionário gay Henry, apoiador do Partido Republicano (leia-se Trump ou Bolsonaro), representado adequadamente por Reynaldo Giannecchini,50.
Em contraste com a imagem que temos dos gays de mentalidade liberal, ele (Henry) não está nem aí para o fato de os gays estarem sendo profanados pelo governante na Casa Branca, desde que continue a obter lucros obscenos como um viciado em trabalho cuja recreação é a vida agitada e as orgias.
Como dito em uma resenha anterior, o local pode ser a América decadente, mas poderia muito bem ser São Paulo, Rio de Janeiro ou qualquer outra cidade onde os homossexuais têm uma comunidade proeminente.
Antes de ‘The Inheritance’, eu já havia visto o talento de Bruno Fagundes em Baixa Terapia e acredito que Bruno, que interpreta Eric – parceiro rejeitado pelo aspirante a dramaturgo Toby nesse épico – é um ator a ser observado junto com Rafael Primot.
A projeção auditiva e dramática de Primot está, em minha humilde opinião, na tradição dos grandes atores e atrizes brasileiros, como Sérgio Britto, Ítalo Rossi e Bibi Ferreira, que nos proporcionaram muitas noites incríveis no teatro local.
Marco Antoni Pamio, que interpreta “brilhantemente” (como escreveu um crítico de São Paulo) a inspiração para a peça, o autor britânico E.M Forster, é outro motivo para assistir a essa peça.
A veterana e premiada atriz Miriam Mehler, 88 anos(!), literalmente interrompe o espetáculo com monólogos como Margaret, a mãe que perdeu o filho para a AIDS.
Quanto ao dramaturgo americano, somente o tempo e outras peças dirão se, apesar de todos os seus prêmios e críticas, ele está na mesma classe de outros grandes dramaturgos americanos, como Edward Albee, Tennessee Williams, Arthur Miller ou mesmo o brasileiro Nelson Rodrigues.
Interessante o que acabei de ler aqui, existe muitos artigos em seu blog relacionado a este que acebei de ler gostei de seu blog. Topflix séries
Adorei conhecer seu blog, tem muito artigos bem interessantes. receita de chocolate bolo