Globetrotter by Harold Emert

Hoje em dia, com a inteligência artificial a tomar conta de muitos aspectos da vida, este amante do teatro gostaria de sugerir aos hábeis produtores e directores de uma excelente produção de Nelson Rodrigues “A Falecida” que encontrassem um meio de, através de auscultadores, traduzir simultaneamente em várias línguas para os turistas esta “tragédia carioca” de um génio teatral brasileiro.

Pois, acreditem ou não as agências de turismo do Brasil, há turistas que vêm ao Brasil não só pelo Carnaval e pelo futebol, mas que gostariam de tentar entender e apreciar a cultura local.

E “A Falecida” (1953), com uma atuação realmente fantástica de Camila Morgado48 , máscaras na tradição da tragédia grega, conversas com os chefes das raquetes e conversas de salão de bilhar sobre futebol, é de facto uma tragédia teatral muito carioca mas internacional.

Quando estudei as tragédias de Nelson Rodrigues (Recife ,1912-1980, Rio de Janeiro) na Universidade Federal Fluminense, sob a orientação competente do Professor André Dias, a princípio gostei do jornalista-jornalista-romancista e desportista brasileiro, dos dramaturgos americanos Eugene (“Long Journet into the Night”) O’Neill ou Tennessee (“A Streetcar named Desire”) Williams ou Arthur (“A Death of a Salesman”) Miller.

Mas esta produção dirigida por Sergio Modena, com o cenário de André Cortes, está mais próxima de gregos como Eurípedes do que dos meus colegas dramaturgos americanos geniais.

Como Nelson Rodrigues, que trabalhou de repórter policial a colunista de jornal durante toda a sua vida, depois de longas horas de trabalho sobre uma máquina de escrever quente numa redação esfumaçada, teve energia para produzir 17 peças – muitas delas obras-primas internacionais – é a questão?

É claro que ele foi profundamente influenciado por suas próprias crises de tuberculose (a personagem central Zulmira está morrendo de tuberculose), pelo trágico tiroteio em 1923, numa redação carioca, de seu irmão Roberto23 , e por seus deveres jornalísticos “rotineiros” desde a adolescência, cobrindo as cenas sangrentas de ser repórter policial num Rio de Janeiro que não parece ter mudado muito.

Portanto, nessa tragédia estão os bicheiros, os maridos playboys cuja vida gira em torno de jogar sinuca e apostar em jogos de futebol e principalmente as donas de casa “puras e religiosas” como Zulmira (que busca um funeral real para si) ou que em suas vidas extraconjugais realizam suas fantasias sexuais – mas não com seus maridos!

Minha pesquisa no google mostra que o filme de 1965 de Leon Hirszman, estrelado pela eterna musa de Nelson, a grande atriz brasileira Fernanda Montenegro (como Nelson escreve para e sobre mulheres!), foi exibido em 1971 em Nova York e não recebeu uma boa crítica de um crítico do NYTimes, que pouco entendia da cultura carioca.

Quem dera a atual produção do Copacabana Palace pudesse ser transportada para algum teatro fora da Broadway – com ou sem a ajuda da tradução simultânea da Inteligência Artificial!

Elenco: Camila Morgado,Thelmao Fernandes,Stela Freitas,Gustavo Wabner,Alcemar Vieira, Alan Ribeiro e. Thiago Marinho

PS-Não tendo sido convidado para este teatro esgotado (na maioria das noites), este observador conseguiu comprar (com antecedência) um lugar na primeira fila à extrema direita do palco e (para estes ouvidos envelhecidos) o meu poleiro foi perfeito para apreciar esta produção inesquecível.

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