Globetrotter by Harold Emert

Os documentários que participam do atual festival internacional de cinema mostram que o Rio de Janeiro pode não ser Viena – onde prosperaram gênios da chamada música clássica como Haydn, Mozart, Schubert e Beethoven – mas, à sua maneira, a chamada Cidade Maravilhosa foi e continua sendo uma capital internacional da música.

Os documentários incluem este retrato do grande pianista brasileiro João Carlos Assis Brasil e a história do gênio carioca do bairro de Vila Isabel, Noel Rosa, que em seus 27 anos (o vienense Franz Schubert viveu apenas 31 anos) produziu um tesouro de melodias inesquecíveis que continuam a ser cantadas, tocadas e amadas.

“Mergulho no Escuro”, das jovens cineastas brasileiras Isis Mello e Anna Costa e Silva (diretoras e roteiristas), segue os passos e a intimidade do saudoso João Carlos Assis Brasil, um dos maiores pianistas brasileiros.

Sua morte aos 76 anos de idade, em 6 de setembro de 2021, durante a pandemia da COVID, chocou e entristeceu o mundo musical e seus fãs leais, assim como a morte repentina de outro gênio, seu irmão gêmeo, o saxofonista Victor Assis Brasil, em 1981, com apenas 35 anos de idade, foi um choque para todos aqueles que amavam e apreciavam a estatura internacional de Victor como um dos principais músicos de jazz.

Acompanhando João Assis pelas ruas de sua cidade natal, o Rio de Janeiro, na escola de música Villa Lobos e em concertos no Musica no Museu, este observador (que já havia se apresentado com João inúmeras vezes) lembrou-se da frase banal “minha vida daria um filme”.

E, de fato, a vida e os tempos de um pianista versátil que ganhou o terceiro prêmio no Concurso Internacional Beethoven de 1965, apresentando-se com a Filarmônica de Viena e ainda acompanhando e gravando com estrelas da música pop brasileira como Ney Matogrosso, Maria Bethânia e Alaíde Costa, entre outros, é digna de um documentário.

O documentário inclui uma breve entrevista com a falecida mãe de João, Elba, lembranças de seu irmão Victor, feitas por João, e uma aula magistral na escola Villa Lobos, ministrada por um professor entusiasmado e, de fato, musicalmente lúcido, João Assis Brasil, que a maioria de nós, que conhecemos o pianista, nunca soubemos.

O legado do pianista é uma Camerata, ou pequena orquestra, em seu nome. Mas, assim como muitas entidades musicais na cidade onde reinaram grandes nomes da música como Tom Jobim, Ary Barroso, Villa Lobos, Pixinguinha, Guerra Peixe e Radames Gnattali, as atividades da Camerata parecem ter se esvaído à medida que o Rock in Rio e o Rap tomam conta do mundo musical.

Isis Mello estudou na Universidade Federal do Rio de Janeiro e criou e produziu as séries “Olhar” e “Os Impares” para o canal de TV brasileiro “Curta”.

Anna Costa e Silva, 36 anos, estudou em seu país natal, além de fazer mestrado na New York School of Visual Arts.

Curiosamente, em contraste com outro documentário bem feito, porém longo, sobre Noel Rosa, este espectador achou o documentário sobre João Carlos Brasil muito curto. Talvez haja mais nos arquivos de outras fontes para implementar essa nobre homenagem, relembrando um músico brasileiro que ainda não morreu para muitos de nós.

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