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Tentando se atualizar com o mundo do jazz e da música popular brasileira depois de décadas submerso no chamado mundo da música erudita do Brasil, este observador ficou um pouco envergonhado ao se sentar quase no palco da casa noturna Blue Note ou diretamente em frente ao pianista Gilson Peranzzetta e Marcel Powell, guitarrista, enquanto eles apresentavam um duo no Blue Note.
Mas meu lugar quase em cima do piano de Gilson na noite da última sexta-feira, nesse adorável local de jazz e pop perto da brisa do mar da Avenida Atlântica, em Copacabana, me deu uma ideia de como funciona o maestro pianista, acordeonista, clarinetista, compositor, arranjador e produtor musical.
Pois na estante de música de seu piano, que parecia conter suas elaboradas improvisações virtuosas, havia simples folhas de papel com a música e a letra!
Um pianista de jazz lendo música?
Isso me fez lembrar do lendário pianista brasileiro Roberto Szidon, no mundo clássico, que tocava os principais concertos com a partitura à sua frente.
Peranzzetta, 78 anos, natural do Rio de Janeiro, que estudou com as pianistas clássicas brasileiras Sônia Maria Vieira e Vilma Graça (uma pianista de concerto que ensinou alguns dos grandes nomes da música popular brasileira), bem como com o ícone local do jazz-bossa nova João Donato, tem um toque leve e uma técnica extraordinária.
Como venho da América do Norte e não do Sul, seu estilo brasileiro de tocar piano lembra a este ouvinte idoso o lendário pianista de “swing” Teddy Wilson, que fazia parte do trio de clarinetistas do rei do swing Benny Goodman quando não acompanhava grandes nomes do jazz como a cantora Billie Holiday, entre outros.
(Wilson admitiu ser um discípulo de Earl Hines, Fats Waller e Art Tatum, todos virtuoses do piano de jazz admirados internacionalmente).
O maestro Gilson acompanhou lendas brasileiras como Simone, Fátima Guedes, G al Costa e Ivan Lins, entre outros, quando não estava orquestrando para grandes nomes como Leny Andrade e Dionne Warwick.
Seu parceiro musical na última década no Blue Note na noite de sexta-feira, Marcel Powell,42, nascido em Paris, mas brasileiro, está seguindo os passos de seu estimado pai, Baden Powell, compositor e violonista.
O tema da noite de sexta-feira passada foi “Um tributo a Sebastião Tapajós” (Santarém, Pará, 1923 – Santarém, 2021). O falecido compositor-guitarrista estudou em Portugal e na Espanha e tem um Instituto em sua homenagem em sua cidade natal.
Ao contrário da famosa bossa nova de Tom Jobim, “Slightly Out of Tune”, a sincronia de Marcel com o piano virtuoso de Gilson sempre foi evidente na noite de sexta-feira para a plateia silenciosa (uma surpresa para o Rio de Janeiro) e apreciativa.
O duo vem fazendo música juntos há uma década e um observador se surpreende com o fato de que a Blue Note não parece estar repetindo os músicos até agora para 2025.
A dupla gravou (disponível no Shopee Brasil) um CD chamado “Pro Tiao”, que inclui parte do repertório ouvido no Blue Note em homenagem a Sebastião (Tiao) Tapajós.