Globetrotter by Harold Emert

Por meio da magia do “Meet” da internet, este ex-repórter cultural, colunista, crítico de gastronomia, música e teatro do extinto jornal inglês do Rio de Janeiro, o Brazil Herald, compareceu na tarde de domingo a uma reunião cinquenta anos depois de nossos antigos repórteres e editores.

A ocasião foi para anunciar (!) em um novo livro de mais de 496 páginas (103,51 reais no formato Kindle, 204 reais em capa dura da Amazon) do meu ex-editor, agora professor de jornalismo da Universidade Estadual de Iowa, Stephen Bloom, chamado “The Brazil Chronicles”.

O Brazil Herald era administrado pelo falecido Bill Williamson, um nativo de Cedar Rapids, Iowa que se tornou o gerente geral do Brazil Herald e que era um marinheiro apaixonado, bem como jornalista e amante-admirador do Brasil. O jornal foi um ponto de partida para muitos repórteres internacionais, incluindo o famoso Hunter S. Thompson, fundador do jornalismo Gonzo, incluindo o “Diário de um Jornalista Bêbado”, que foi transformado em um filme popular de Hollywood.

Tendo estado fora por décadas do meu país natal, os EUA (agora transformado em terra de Trump), nunca pude comparecer a uma reunião de colégio ou universidade.

E para dizer o mínimo, é muito emocional, atinge tanto os nervos emocionais que só posso explicar a ausência de alguns como medo da nostalgia.

Pois, para realmente citar o velho ditado, “éramos felizes e não sabíamos”, em uma época cinquenta e poucos anos atrás, antes da internet e de Donald Trump, quando máquinas de escrever, teletipos e garrafas de cerveja na mesa, ventiladores em vez de ar condicionado eram a regra em um escritório movimentado na Rua do Resende, na Lapa, a supostamente carioca Montmartre, Paris.

E o mais importante, não trabalhávamos em escritórios domésticos, mas em uma redação principal, movimentada e um tanto desorganizada, cheia de conversas, para onde esse oboísta podia correr depois de um ensaio com a Orquestra Sinfônica Brasileira na Sala Cecília Meireles, ali perto.

No último andar do mesmo prédio onde nossas impressoras produziam jornais em inglês todos os dias, havia um grupo de brasileiros desordeiros, incluindo o jornalista Paulo Francis, os cartunistas Jaguar e Ziraldo e o fundador do icônico jornal satírico, o humorista Millor Fernandes.

Se ao menos eu — e alguns dos outros que falavam inglês e pouco português na época — os conhecêssemos melhor ou sequer os conhecêssemos!

A comunidade local de língua inglesa era muito maior do que é hoje em dia e, no século passado (!), as pessoas dependiam de jornais impressos em contraste com esses dias online de leituras incompletas, o que talvez explique algumas das infelizes ocorrências políticas ao redor do mundo.

Nossa discussão ontem foi literalmente um encontro de reencontro e reaproximação que revelou o fato concreto de que a maioria dos nossos ex-jornalistas não está mais na profissão, trabalhando ou aposentados como terapeutas, um ex-motorista de táxi que possui uma frota de táxis e dois romances que escreveu sobre suas aventuras no Brasil, o chefe de uma agência de tradução, um repórter aposentado de agência de notícias escrevendo peças em São Paulo, um ex-editor que cobre a indústria cinematográfica e está produzindo um filme sobre o ex-ladrão de trens Ronald Biggs, que se exilou por 30 anos no Rio de Janeiro, um ex-funcionário do Corpo da Paz que se tornou romancista e autor, filho do nosso ex-editor e diretor de uma oficina de arte na Guatemala.

Jornais e jornalismo são sobre o que é “novo” e eu vi em minha vida a extinção de inúmeras empresas de jornalismo amadas.

Seja em papel ou online, não há dúvida de que sempre haverá um mercado para escrever e tentar entender as complexidades de cada dia e idade e, de uma forma ou de outra, o próximo Brazil Herald certamente retornará.

Mas enquanto isso algumas lágrimas derramadas pelos dias mais felizes da nossa vida e não sabíamos disso no Brazil Herald no Rio de Janeiro.

PS-Como eu disse na reunião, depois do indicado ao Oscar “I´m Still Here,” eu/nós estamos esperando o filme de Hollywood ou do Brasil chamado “The Brazilian Chronicles.”

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