
Entre os maiores segredos para o mundo exterior (que só parece conhecer este planeta chamado Brasil como o mais famoso pelo samba e pelo Carnaval) está a longa tradição de excelentes pianistas brasileiros.
Guiomar Novaes, Magdalena Tagliaferro, Jacques Klein, Cristina Ortiz, Arnaldo Cohen, Roberto Szidon, Arthur Moreira Lima e, é claro, Nelson Freire, são apenas alguns dos produtos nacionais no que costumava ser chamado de pianolândia.
Quinta-feira à noite, num teatro nobre do Copacabana Palace-que DEVE receber mais concertos neste bairro agora estéril culturalmente chamado Copacabana-tivemos o privilégio de ouvir um recital da pianista paulista radicada em Paris, Sonia Rubinsky.
O programa incluiu obras de Mozart (Sonata no. 4), Beethoven (Sonata no. 30), o inimitável “Canto das Crianças” de Debussy, o “Carnaval das Crianças” de Villa Loboses e um raramente ouvido (para o Brasil) “Liebesleid” de Fritz Kresiler e Sergei Rachmaninov, dois refugiados/imigrantes nos EUA pré-Trump.
O recital foi todo executado no piano do falecido Nelson Freire (Boa Esperança, Minas Gerais, 1944-RJ, 2021) que o Teatro emprestou para o evento, segundo nos disseram.
Assim, o fantasma do pianista brasileiro de renome internacional pairou sobre o concerto, lembrando-nos que os Óscares podem ir não só para filmes feitos no Brasil, mas também para músicos e compositores locais.
A Sra. Rubinsky tem um toque leve e delicado que faz lembrar a pianista austríaca Ingrid Haebler (Viena, 1929-2023) e a mesma modéstia da Haebler e Nelson Freire ( em vez da abordagem de show biz de das super estrelas do piano de hoje).
O seu programa foi obviamente bem planeado e programado e, mesmo para além da raridade local das notas de programa, incluía outra raridade, um intervalo para os ouvidos (entre outras partes do corpo) descansarem.
Esperamos que o Teatro seja usado com mais freqüência para concertos, pois o nosso querido bairro de Copacabana está superpovoado não só por idosos, mas também por farmácias e supermercados onde antes havia teatros, cinemas e casas noturnas.
PS-O adágio brasileiro é “Santos caseiros não fazem milagres” e na experiência deste oboísta de tocar apenas 36 anos em orquestras locais eu nunca tive o prazer de tocar com a Sra. Rubinsky.