Globetrotter by Harold Emert

“O teatro é maravilhoso. Adoro como ele enriquece a nossa vida”, comentou um dos espectadores em nosso Uber quando saímos do Teatro Nelson Rodrigues, no centro da cidade, após a noite de estreia da versão atualizada e imaginativa de ‘O Mercador de Veneza’, de Shakespeare.

Enquanto isso, em outro Uber, um casal que foi desagradavelmente surpreendido por essa versão revisada e com roupagem moderna do clássico (escrito entre 1596 e 1598) – apesar da presença de um dos principais atores brasileiros, Dan Stulbach – voltou para casa “decepcionado”.

Só podemos supor que os espectadores decepcionados esperavam a versão usual – e antiquada para alguns – em trajes e falas elisabetanos – de uma peça que continua a ser uma discussão atualizada sobre os perigos do capitalismo e os preconceitos não só contra os judeus, mas também contra aqueles que são classificados como “estrangeiros”.

Apesar de a peça ter sido escrita no século XVI, “Shylock ri, chora, sofre e tem toda uma gama de emoções que, para um ator, é deliciosa. Ele é absolutamente atual”, disse Stulbach, 55 anos, à revista Rioshow, do jornal O Globo.

E, desde o momento em que aparece com sua touca (yarmulke) e Tzitzis (vestimentas subjacentes que lembram a presença do Senhor), Stulback chama nossa atenção e é a atração central como Shylock.

Os acréscimos imaginativos, incluindo um baterista pulsante, uma câmera que, como um Youtube ao vivo, exibe a ação em andamento, um dançarino e até mesmo beijos gays podem revoltar (e aparentemente revoltaram) os puristas shakespearianos.

Mas nunca há um momento de tédio nessa produção dirigida por Daniela Stirbulov com uma nova tradução (adaptação abreviada) para o português do Brasil feita por Bruno Cavalcanti.

A libra de carne que o judeu Shylock exige como pagamento de seu empréstimo ao empresário antissemita Antonio PARECE quase prestes a acontecer no palco, enquanto Shylock afia sua faca e suas escamas aguardam ansiosamente o saque.

A noite de estreia ocorreu no momento em que os investigadores em Washington D.C. verificavam os antecedentes e as motivações do assassino de dois funcionários da embaixada israelense enquanto eles visitavam o Museu Judaico na capital do país.

Enquanto isso, apesar de os documentos legais “corretos” para provar que ele merece uma libra de carne estarem prestes a ser aceitos no tribunal, o não cidadão Shylock perde seu caso quando é descoberto um detalhe legal que concede liberdade a Antonio.

Parece um capítulo de Trump e companhia descobrindo artifícios legais obscuros para deportar, abusar de imigrantes e perseguir qualquer pessoa ou entidade que eles acreditam ser “inimigos”.

Viva Shakespeare!!!

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Suelle

Que interessante essa matéria que acabei de ler, até compartilhei no meu Facebook. resultado do vale cap

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