Globetrotter by Harold Emert

Quem você já sonhou em ser?

Uma estrela de cinema ou novela, alguém bonito ou bonita, um diretor de cinema ou cineasta famoso, ou alguém que vive uma vida mais aventureira e glamorosa do que a sua?

Esse é um dos temas abordados em uma excelente performance dupla da veterana atriz, dramaturga e diretora carioca (residente em São Paulo) Susana Ribeiro, 55, e do ator gaúcho (natural do estado do Rio Grande do Sul) Nicolas Vargas, 30, que aparece na série da Netflix “Senna”, no Teatro Poeira, na peça da Sra. Ribeiro “Eu sonhei com você”.

As últimas apresentações locais da peça, que é a primeira (e esperamos que não seja a última) de Ribeiro, serão na próxima terça-feira (24) e quarta-feira (25) no Teatro Poeira, em Botafogo, o equivalente carioca da Off-Broadway de Nova York.

O “Teatro Poeira”, fundado pelas excelentes atrizes brasileiras Marieta Severo e Andrea Beltrão, é um palco de excelentes atuações e peças mais artísticas do que populares, e essa peça cômico-trágica se encaixa bem nessa categoria.

“Sonhei com Você” é um encontro entre homem e mulher na tradição de “Eu Te Amo”, de Arnaldo Jabour, e do icônico “Último Tango em Paris”, mas sem o erotismo em cena/na câmera dos dois filmes. É obviamente escrita de um ponto de vista feminista, o que deve render pontos positivos à Sra. Ribeiro se a peça for traduzida para teatros estrangeiros, e a personagem feminina é mais astuta sexualmente do que seu jovem intruso/visitante.

A epopeia de 70 minutos começa como uma comédia leve: quando um estudante universitário de 30 anos, que mora com a mãe em uma zona relativamente mais rica do Rio de Janeiro (Botafogo) e está filmando um documentário para seu curso universitário, entra no apartamento suburbano (leia-se “mais pobre” no Brasil) de uma fisioterapeuta de 55 anos. Seu projeto acadêmico é capturar em filme a rotina de outras pessoas, e a rotina monótona de Simone, que trabalha cinco dias por semana, oito horas por dia, em uma clínica de fisioterapia no centro da cidade, é perfeita para seus requisitos.

Mas, em vez de se tornar uma câmera escondida brasileira, o que começou como um retrato documental de uma mulher solteira, sem filhos e envelhecida, a peça vai mais fundo: retrata a vida, as esperanças, as fantasias, as frustrações sexuais, os sonhos e os sofrimentos de cada personagem.

É impressionante como a mudança de tom tanto da Sra. Ribeiro (Simone) quanto do Sr. Vargas (Daniel), da leveza à raiva — parecendo dois cantores de ópera em um dueto — inclui o belo, o medo, a raiva e a frustração. Também impressionante é a coreografia no palco dos dois atores versáteis.

A peça teve uma curta temporada em São Paulo antes da estreia em 25 de maio no Teatro Poeira, no Rio, e merece voltar para uma temporada mais longa e uma turnê nacional, se não internacional, na humilde opinião de um espectador estrangeiro, que assistiu a “sucessos” locais que não estavam à altura da qualidade de “Eu sonhei com você”.

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