
Apesar do antigo local dos Jogos Olímpicos do Rio de 2016 ficar tão longe da minha residência aqui em Copacabana, este leitor ávido decidiu voltar à Bienal do Rio no que imaginei ser uma terça-feira tranquila.
Por sugestão de outro amante da literatura, evitei pegar um táxi e peguei o metrô de Copacabana até a última estação (construída para as Olimpíadas), Jardim Oceânico.
Sua continuação terrestre a partir da zona sul do Rio (Leblon, Ipanema, Copacabana) se assemelha a conexões semelhantes em Nova York e Londres. A continuação do metrô é chamada de BRT, também construída para as Olimpíadas e traduzida como “Linha de Trânsito Rápido”.
Ela é realmente rápida e me levou à Bienal do Livro em cerca de 40 minutos, mas um passageiro inexperiente deve perguntar quando descer e onde fazer a baldeação para chegar ao Rio Centro.
Para minha surpresa, novamente nesta cultura de futebol e carnaval, o Riocentro e a Bienal do Livro estavam lotados de crianças em idade escolar visitando os vários pavilhões.
Depois de dar uma olhada nos inúmeros livros em exposição e, por segurança e para descansar meus pés cansados, procurei o Café Literário Polen, que está comemorando seus 25 anos de existência. E meus instintos estavam certos.
Dicas para os novatos: consultem o site da Bienal e vejam quem está falando sobre quem é quem no mundo literário brasileiro até este domingo no Riocentro.

O Café Literário Polen (Pavilhão 2) é destinado ao “diálogo, à troca de ideias e reflexões sobre questões importantes e rumores da sociedade. Grandes nomes da filosofia e formadores de opinião se reuniram e conversaram sobre comportamento, política, relações humanas, cultura, artes e meio ambiente”.
E, de fato, uma discussão acalorada entre autoras feministas, incluindo a italiana Antonella Lattanzi, 46, Giovanna Madalosso, 50, de Curitiba, e a paulista Andrea del Fuego, 50, resultou no tema “Tópicos não ditos”.
Esses temas “não ditos” incluíram: ter ou não filhos, perda, culpa e silêncio.
Suas visões feministas foram seguidas pelo que acabou sendo o destaque do dia, o jornalista carioca, biógrafo (Garrincha, Carmen Miranda, Nelson Rodrigues) e membro da Academia Brasileira de Letras Ruy Castro discutindo seu novo livro sobre a Segunda Guerra Mundial no Rio de Janeiro: Trincheira tropical.
A discussão esclarecedora de Ruy em português (que é sempre clara, simples e sucinta como suas colunas na Folha de São Paulo) incluiu os muitos imigrantes notáveis (olha aí, Sr. Trump) que fugiram de Hitler para o Brasil e enriqueceram a vida cultural brasileira, incluindo o importante autor da época Stefan Zweig, o maestro húngaro Eugen Szenkar, o primeiro diretor artístico e maestro da Orquestra Sinfônica do Brasil, entre outros notáveis.
O livro de Castro também acompanha as tropas brasileiras na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, os ilustres correspondentes de guerra, incluindo Ruben Braga, que as acompanhou e relatou, a censura total da Segunda Guerra Mundial e suas atividades, o Brasil e o ditador Getúlio Vargas e outros assuntos importantes de uma época que nunca deve ser esquecida.
Perguntei a Castro se a atual época de Trump se assemelha à década de 1940 e sua resposta foi que o fechamento de universidades (Trump as ameaçou) e a criação de um inimigo mortal (em 1940, os comunistas; hoje, os imigrantes ilegais) são de fato semelhantes.
Mal posso esperar para ler Tropical Trench.
Atenção, amantes de livros: a Bienal termina no domingo, 22 de junho.
