por Susie Verde

Nos dias 25 e 26 de julho de 2025, o belíssimo Museu de Arte do Rio de
Janeiro (MAR) acolheu o VII Seminário Leitura de Imagens: A
Epistemologia de Nise da Silveira, reunindo profissionais da saúde mental
de diversas regiões do Brasil em uma experiência estética, clínica e
profundamente humana.
O seminário foi marcado por apresentações de altíssimo nível, nas quais
psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e arte-
educadores compartilharam práticas inspiradas na obra de Nise. A escuta
sensível, o acolhimento do sofrimento psíquico através das imagens e o
respeito à singularidade subjetiva estiveram no centro das falas — todas
revelando como a epistemologia de Nise permanece atual, necessária e
profundamente transformadora.
Figura visionária da psiquiatria no século XX, Dra. Nise da Silveira
desafiou o modelo biomédico e as práticas violentas da época. Ao invés da
contenção e do eletrochoque, ela propôs o afeto, os ateliês terapêuticos, a
liberdade expressiva como meio de acessar e cuidar da psique. Seu livro
Benedito: Um Negro que Pintava é uma obra essencial de seu
pensamento: um testemunho da potência da criação artística como
expressão do inconsciente.
O diálogo entre sua obra e o pensamento de Carl Gustav Jung permeou
muitas das mesas e rodas de conversa. Jung foi uma referência
fundamental para Nise, especialmente em sua compreensão das imagens
arquetípicas e da função simbólica da arte. A correspondência entre os
dois revela um encontro raro entre ciência e alma, razão e imaginação —
algo que segue inspirando práticas clínicas em todo o país.

Parte fundamental desse legado é o Museu de Imagens do Inconsciente
(MII), fundado por Nise em 1952, no bairro do Engenho de Dentro. Um
verdadeiro oásis no subúrbio carioca, o MII guarda mais de 352 mil obras
produzidas por pacientes dos ateliês terapêuticos — um acervo comovente
que combina beleza, dor, lucidez e mistério. O museu é também um centro
de estudos, pesquisa e formação, oferecendo uma biblioteca
especializada, videoteca, programas educativos e cursos abertos ao
público.
Em 2017, o reconhecimento internacional chegou com a inclusão do
arquivo pessoal de Nise da Silveira no Registro Internacional do Programa
Memória do Mundo da UNESCO — uma consagração da importância
universal de sua obra. Já em 2018, o MII incorporou um novo prédio à sua
sede, ampliando sua capacidade de conservação, pesquisa e difusão.
Para Eurípedes Júnior, coordenador de projetos do museu, a expansão
física do MII é, acima de tudo, um gesto simbólico:
“Ampliar o espaço do museu é ampliar também o campo de visibilidade
dessas narrativas únicas que Nise soube valorizar. Cada imagem
guardada aqui é uma chave para compreendermos melhor a condição
humana.”
E é exatamente isso que o seminário fez — trouxe à tona, com respeito e
paixão, a história de muitos homens e mulheres que encontraram, através
da arte, da escuta e da imagem, um novo caminho de existência.
Em tempos de tantas urgências psíquicas e sociais, revisitar a obra de
Nise da Silveira é mais do que um tributo: é um chamado ético e poético
para imaginar outros modos de cuidado, outros mundos possíveis.
Bravo an important subject to be explored