Globetrotter by Harold Emert

Guest columnist –Daniela Israel

Numa chuvosa tarde paulistana, entrei no Vibra São Paulo ao lado de milhares de pessoas que, por um dia, decidiram parar de correr e começar a escutar. O evento? O Mind Summit 2025 um encontro que reuniu profissionais de diferentes áreas para refletir sobre o potencial humano e a saúde mental no futuro do trabalho. O encontro provou que negócios, ciência e alma podem e, de fato, devem, compartilhar o mesmo palco. Um convite coletivo à pausa para pensar, sentir e imaginar.
O dia começou com uma energia incomum para um evento corporativo. O maestro Guilhermo Santiago conduziu a plateia em uma experiência musical inesperada. Nos convidou a criar música a partir de nada além de materiais recicláveis, de nossas mãos, de nossa respiração e de nossa coragem. Todos nós descobrindo o ritmo em garrafas plásticas cortadas e lápis e a harmonia em nossas próprias risadas. Santiago lembrou que “encantar” vem de “cantar para dentro” E, por alguns minutos, a conferência transformou-se em uma sinfonia de humanidade redescobrindo sua melodia interior.
Se liderança, inovação e saúde mental compartilham um segredo, é este: todos somos instrumentos, e sem pausas, sem silêncio, não existe música. A orquestra participativa de Santiago me lembrou que a criatividade e a colaboração surgem justamente nesses intervalos, nos espaços onde ousamos escutar.
A partir daí, a conversa voltou-se para o futuro do trabalho: um futuro que, ironicamente, estamos tendo dificuldade em imaginar. Como provocou uma das palestrantes: O que acontece com nossa saúde mental quando não conseguimos visualizar nossas próprias vidas daqui a cinco anos? A ansiedade, ao que parece, floresce justamente onde a imaginação morre. A angústia de viver à mercê do imprevisível é real e a biologia humana, como lembraram alguns especialistas, ainda não se adaptou ao século XXI. Nossos mecanismos primitivos de defesa e comparação social disparam o tempo todo, ampliados pelas redes e pela sobrecarga informacional. Criatividade e inovação, tão necessárias para os nossos tempos modernos, não florescem num corpo em estado de alerta constante.
Adam Grant reforçou que liderar transformações nesta era exige humildade intelectual: observar o mundo evoluir e evoluir com ele. As boas práticas de ontem podem se tornar péssimas em um piscar de olhos.

Michelle Schneider resumiu as competências essenciais do futuro em quatro pilares: mente inovadora, letramento tecnológico, inteligência emocional e saúde mental.

E Jan Emmanuel De Neve, da Universidade de Oxford, trouxe dados consistentes demonstrando que bem-estar e resultados econômicos estão causalmente ligados: empresas mais felizes são também mais produtivas e lucrativas. Ele defende o bem-estar como vantagem competitiva e lembrou que, embora a maioria das organizações reconheça sua importância, poucas o priorizam em ações tangíveis do dia a dia.
A professora Amy Edmondson, de Harvard, acrescentou uma camada essencial ao debate ao falar sobre segurança psicológica. Criar ambientes seguros não é tornar tudo confortável, mas sim cultivar espaços onde as pessoas se importam o suficiente para agir com coragem: para dar e receber feedbacks sinceros, admitir erros, pedir ajuda e aprender umas com as outras. Inovação, ela mostrou, nasce dessa combinação de confiança e vulnerabilidade, de um tipo de harmonia que só existe quando cada instrumento se permite tocar plenamente.
E Tal Ben-Shahar, com seu pensamento, centrado na psicologia positiva, ecoava na fala de todos: felicidade não é ausência de dor, mas presença de propósito.
E talvez tenha sido exatamente isso que o Mind Summit 2025 me fez lembrar: em tempos de tanta tecnologia, o que ainda nos distingue é a imaginação e a afetividade, dons humanos que nenhuma inteligência artificial alcança.
Saí do evento sob a mesma chuva que me recebera pela manhã, com a sensação de que, para seguirmos relevantes e saudáveis neste novo tempo, precisamos reaprender a fazer o que o maestro Guilhermo nos ensinou: cantar para dentro e transformar o barulho em música.

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comments
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
0
Would love your thoughts, please comment.x
()
x